Capacitismo é presumir equivocadamente que pessoas com deficiência são incapazes de realizar atividades por terem corpos fora do padrão social. Conheça alguns termos em desuso e saiba como evitá-los.
Todo dia 3 de dezembro é comemorado o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. Um dia para celebrar conquistas e avanços, sim, mas também levantar discussões necessárias para a construção de ambientes mais inclusivos e respeitosos. Uma das formas de começar é excluindo expressões e perguntas capacitistas do nosso cotidiano.
Capacitismo é presumir, de forma bastante equivocada, que uma pessoa com deficiência é limitada de algum modo, e adotar uma postura de superioridade em relação a ela.
E talvez você nem perceba, mas muitas expressões comuns do dia a dia dos brasileiros reforçam esse preconceito – como “fingir demência” e “não ter braço para fazer alguma coisa”. Eliminar essas frases e palavras do nosso vocabulário, portanto, é uma forma de ajudar a construir ambientes de convivência mais respeitosos.
Para ajudar na discussão, o NuPlural – grupo de afinidade de Pessoas com Deficiência (PcD) do Nubank – elaborou uma cartilha com 29 expressões e comentários capacitistas para retirarmos de vez do vocabulário.
Conheça abaixo e compartilhe com seus colegas de trabalho, amigos e familiares, para criarmos ambientes cada vez mais empáticos para todas as pessoas.
Explicação: não ter um braço é uma condição física, não comportamental. Não ter um braço, portanto, não significa que a pessoa é preguiçosa, menos disposta a ajudar os outros ou apta a assumir responsabilidades. Afinal, qualquer pessoa pode ter atitudes como essas.
Substitua por: “a pessoa é preguiçosa”, “fugiu da responsabilidade” ou “se fez de desentendida”.
Explicação: mancar não deve ser sinônimo para errar, já que algumas pessoas mancam mesmo quando estão caminhando – e está tudo certo!
Substitua por: “dar uma gafe”, “faltar com o compromisso”, “ser sacana”, errar.
Explicação: poder ver ou ouvir não tem nada a ver com a capacidade de prestar atenção no que está sendo dito ou mostrado.
Substitua por: “você prestou atenção no que eu disse/mostrei?”, “você poderia me responder o que te perguntei?”.
Explicação: pode ser ofensivo a pessoas que tenham algum tipo de deficiência nas pernas ou redução de mobilidade, e não deve ser associado a algo que não vai bem.
Substitua por: “estar com problemas”, “estar em crise”.
Explicação: a demência é um grupo de sintomas caracterizado pela disfunção de pelo menos duas funções do cérebro, como a memória e o discernimento. Não é algo que se escolhe ou finge ter, portanto, e nem deve ser associado ao comportamento negativo de alguém.
Substitua por: “fingir-se de desentendido”.
Explicação: quem disse que é preciso ter braço para fazer uma tarefa? Ou então que não tê-los vai impedir que o trabalho seja entregue com qualidade?
Substitua por: “não temos pessoal para isso”, “não temos força de trabalho suficiente”, “não temos estrutura para isso”.
Explicação: usar o termo para definir a si mesmo quando fizer algo de errado ou para ofender alguém reforça uma falsa ideia de superioridade. Existe um histórico de preconceito associado a esta palavra, já que ela era usada para se referir pejorativamente a pessoas com deficiência intelectual. Substitua por: aqui não tem substituição, podemos parar de criticar a capacidade das pessoas (e de nós mesmos). Todo mundo erra, e precisa haver espaço para o erro no ambiente profissional.
Explicação: as palavras no diminutivo passam a impressão de que a pessoa é inferior às outras por conta de uma característica – o que não é verdade. Ou, ainda, passar a falsa sensação de que falando no diminutivo fica menos ofensivo.
Substitua por: “pessoa com deficiência visual”, “surdo não oralizado” ou, se for em tom pejorativo, não substitua por nada, simplesmente não fale.
Explicação: achar que é um elogio dizer que uma pessoa não parece ter uma deficiência parte do princípio de que ter uma deficiência é algo ruim, ou que deve ser escondido, o que não é verdade.
Explicação: o autismo é uma condição ou diferença neurológica que deve ser respeitada, e não existe “cara de autista”. Lembre-se de que uma deficiência não define ninguém, e que antes dela sempre vem a pessoa.
Explicação: a deficiência não é um problema nem uma doença, é uma característica – e, portanto, ela não precisa ser curada.
Explicação: sabia que, segundo o IBGE, cerca de 24% da população brasileira possui alguma deficiência em diferentes graus? Então pressupor que um tipo de corpo é o normal (e, por isso, unicamente funcional) exclui todos os diferentes tipos de corpos que existem.
Explicação: pense se você realmente precisa dessa informação ou se é apenas uma curiosidade. Reflita também se você tem intimidade suficiente para perguntar algo que talvez a pessoa não queira compartilhar.
Explicação: mancar pode ser uma condição permanente, não um sintoma passageiro. Por isso, a não ser que você tenha visto a pessoa se acidentar de alguma forma, não pergunte se ela se machucou pelo simples fato de estar mancando.
Imagine quantas vezes ela vai precisar responder a mesma pergunta por dia? Ainda que a intenção seja a de ajudar, considere que se uma pessoa mancando precisar de ajuda, ela vai te pedir.
Explicação: pessoas com deficiência são tão capazes quanto qualquer pessoa. Às vezes ela precisa fazer algumas adaptações, mas isso tem relação com a quantidade de barreiras que essa pessoa enfrenta em um mundo pouco amigável para a PcD.
Explicação: o corpo humano é capaz de se adaptar a diversas situações, e por isso as pessoas são tão diversas. Alguém pode ter dificuldade de imaginar o que faria para lidar com situações que para você são corriqueiras. Reflita sobre isso se quiser, mas não precisa comentar com a pessoa.
Explicação: a maternidade pode, sim, ser uma parte da vida das PcDs. A pólio é uma condição que não determina quem o indivíduo vai ser, nem na vida dela, nem na maternidade.
Explicação: o que é normal, no fim das contas? O conceito de normalidade é definido por padrões sociais. Todos os corpos que existem são únicos na sua individualidade, cada um à sua maneira, então a pergunta não faz sentido. Além disso, a questão é rude por ter implícita um desejo de que os filhos de uma pessoa com deficiência não tenham a deficiência, que é apenas uma característica.
Explicação: essa frase pressupõe que uma pessoa com deficiência é ou deveria ser triste, o que está longe de ser verdade. Todos temos dias bons e dias ruins.
Explicação: a deficiência não é um problema e nem uma doença, por isso não é um “fardo” a ser carregado.
Explicação: tratar pessoas com deficiência como heróis ou exemplos de superação não é o mesmo que ter empatia pelos desafios que elas enfrentam. A deficiência não é sobre superar algo, é sobre se adaptar para fazer as coisas que quiser. PcDs não são heróis, são pessoas vivendo suas vidas em um mundo cheio de barreiras.
Explicação: todas as pessoas são especiais em sua individualidade. Ninguém deveria ser considerado especial simplesmente por ter uma deficiência. Alguns usam essa expressão tentando ser gentis, mas, por baixo dela, existe a mensagem oculta de que aquela pessoa não seria “normal”.
Explicação: a PcD também não deve ser colocada neste lugar de que vive algo pior do que outras pessoas, nem inferiorizada para que se encontre satisfação com a própria vida. Ter alguma deficiência não impede que as pessoas vivam – e que enfrentem problemas, como quaisquer outras. Ter uma deficiência não é um castigo ou motivo de admiração, é uma característica que faz parte dessa pessoa .
Explicação: esse tipo de frase cria a ideia de que pessoas sem deficiência são melhores ou têm mais atributos do que pessoas com deficiência.
Explicação: comentários como esse reforçam o preconceito de que pessoas com deficiência não podem ser consideradas bonitas.
Explicação: ter algum tipo de deficiência física não torna uma pessoa menos bonita ou atraente. Essa é só mais uma característica, como tantas outras.
Explicação: ser surdo ou ter alguma deficiência visual não tem relação com a inteligência. Não ter um dos sentidos não faz de alguém menos inteligente – assim como enxergar e ouvir não torna ninguém mais inteligente.
Explicação: muitas pessoas com deficiência auditiva decidem aprender a falar algum idioma e possuem várias ferramentas para isso. Por isso, eles podem se tornar surdos oralizados, e que também realizam leitura labial.
Explicação: pessoas com deficiência não devem ser tratadas como coitadas nem infantilizadas. Trate-a como ela é, ou seja, uma pessoa como qualquer outra, com acertos e erros, defeitos e qualidades, desejos, decepções, sonhos e problemas.
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