A frase do filósofo Georg Wilhelm Friedrich Hegel – “A coruja de Minerva só alça voo ao crepúsculo” – é uma das mais profundas metáforas sobre a natureza do entendimento humano.
A primeira vez que ouvi essa expressão foi no início dos anos 1990, durante uma aula de Sociologia no curso de Ciências Sociais da Fundação Santo André (FAFIL), com o professor Rago. Naquele momento, ela me pareceu complexa. Mas com o passar dos anos, percebi o quanto essa ideia se aplica à vida em diversas dimensões.
Minerva, deusa da sabedoria, é representada com uma coruja – símbolo da reflexão, da inteligência e da visão além do imediato. Mas, segundo Hegel, essa coruja só voa ao anoitecer, quando o dia está terminando. Em outras palavras: a filosofia (e, por extensão, o verdadeiro entendimento) só consegue interpretar os fatos depois que eles já aconteceram.
Essa ideia é extremamente atual – e se aplica não apenas à história da humanidade, mas também à vida corporativa, aos relacionamentos pessoais e às nossas escolhas profissionais.
Quantas vezes só entendemos uma demissão, uma promoção ou uma crise no trabalho depois que ela passa? É só com o tempo que enxergamos o impacto real de uma liderança, os erros de uma estratégia, ou os alertas ignorados no caminho. O mesmo se dá nos relacionamentos: muitas vezes, o verdadeiro significado de uma convivência só se revela quando ela já ficou no passado.
Essa frase de Hegel nos convida à humildade diante da complexidade da vida. Ela nos lembra que nem tudo pode ou deve ser compreendido no calor do momento. O entendimento profundo exige pausa, distanciamento e maturidade.
Vivemos em uma época marcada pela urgência, pela ansiedade de entender e resolver tudo agora. Mas talvez devêssemos nos permitir esperar o crepúsculo. Porque, como bem disse Hegel, é nesse momento que a sabedoria começa a voar.
Marcelo Dantas da Fonseca
Especialista em intermediação de negócios, eventos corporativos e articulação institucional na área de Recursos Humanos.
Coordenador da Rede de Gestores de RH do ABC, diretor da MDF Associados e fundador do Jornal Observatório do RH.
Com passagens pela gestão pública em Mauá e Ribeirão Pires, é um defensor da valorização do capital humano como eixo de transformação social e econômica.
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